A Big Pharma contratou ghostwriters para distorcer a verdade sobre medicamentos de terapia de reposição hormonal
Quando você lê artigos científicos sobre medicamentos em revistas médicas, é fácil acreditar que as informações são precisas e revisadas com rigor, certo? Mas, na realidade, isso nem sempre é verdade. Pesquisas recentes revelaram que grandes empresas farmacêuticas pagaram escritores para distorcer os resultados negativos de estudos e inserir propaganda disfarçada em artigos de revistas médicas renomadas.
Esses fatos foram revelados pela primeira análise acadêmica de 1.500 documentos secretos obtidos durante uma ação judicial contra a gigante farmacêutica Wyeth (hoje parte da Pfizer). O processo foi movido por 14.000 pessoas que alegaram desenvolver câncer de mama após usarem a terapia hormonal (HT) Prempro, um medicamento que contém estrogênios equinos conjugados. O tribunal dos Estados Unidos decidiu divulgar esses documentos ao público, revelando informações alarmantes.
Uma investigação minuciosa desses documentos, publicada na Medicina PLoS, mostrou como as farmacêuticas contrataram ghostwriters (escritores fantasmas) para infiltrar propaganda em artigos científicos. Por exemplo, a Drª Adriane Fugh-Berman, professora associada no Departamento de Fisiologia do Centro Médico da Universidade de Georgetown, analisou uma série de resenhas e comentários escritos por essas fontes fantasma sobre o Prempro, publicados em revistas científicas. Ela descobriu que, nesses artigos, os dados eram manipulados para exagerar os benefícios do medicamento e minimizar seus efeitos colaterais, como o risco de câncer. Além disso, os artigos eram escritos de forma a desacreditar outras terapias concorrentes. Esses materiais não eram apenas distribuídos aos médicos, mas também usados por representantes de empresas farmacêuticas para convencer os médicos a prescreverem o Prempro de forma massiva.
Mas como a Wyeth conseguiu criar e espalhar essas informações enganosas? A farmacêutica contratou uma empresa especializada em comunicação médica, a DesignWrite, para criar esses artigos. Os escritores contratados foram instruídos a suavizar os riscos do Prempro e a enfatizar supostos benefícios cardiovasculares que, na realidade, não tinham base científica. Além disso, a Wyeth usou os ghostwriters para promover usos não comprovados da terapia hormonal, como prevenção de demência, doença de Parkinson, problemas de visão e até mesmo para combater rugas.
Essa manipulação de dados científicos gerou lucros enormes para a Wyeth, enquanto as pessoas da DesignWrite também lucraram com a tarefa. A análise revelou que a empresa recebeu $25.000 para escrever artigos sobre ensaios clínicos, incluindo quatro manuscritos sobre ensaios de Prempro em doses baixas. Além disso, a DesignWrite foi paga com $20.000 por cada um dos 20 artigos de revisão sobre o medicamento.
Em seu estudo, a Drª Fugh-Berman fez um alerta importante: "Com a crescente evidência de que o ghostwriting é utilizado para promover a terapia hormonal e outros medicamentos amplamente promovidos, a comunidade médica precisa tomar medidas para garantir que os prescritores evitem esse tipo de prática e prevenir que relações desonestas entre a indústria farmacêutica e a academia continuem."
Para mais informações acesse:
https://www.industrydocuments.ucsf.edu/drug/