Estudo Inovador: Estimulação Elétrica na Ajuda de Pessoas com Lesão na Medula Espinhal a Andar Novamente

Pesquisadores descobriram que a estimulação elétrica de nervos específicos pode possibilitar que indivíduos com lesões paralisantes da medula espinhal recuperem a capacidade de andar. O estudo, publicado em 9 de novembro na revista Natureza, abrangeu testes em modelos animais e humanos. A pesquisa focou em uma rede específica de células nervosas, que desempenham um papel crucial na recuperação da função motora após uma lesão na medula espinhal, especialmente em casos que resultam em paralisia dos membros inferiores.

A estimulação elétrica da medula espinhal já é utilizada na medicina convencional para o alívio da dor em pacientes com lesões na coluna vertebral. No entanto, a novidade do estudo está no uso dessa tecnologia para restaurar o movimento dos músculos das pernas.

Como Funciona o Estudo

Os testes em humanos envolveram nove participantes com diferentes níveis de paralisia nas pernas. Utilizando dispositivos implantados que enviam impulsos elétricos para pontos específicos da medula espinhal, os pesquisadores conseguiram acelerar a recuperação da capacidade de caminhar em vários pacientes.

A pesquisadora Jocelyne Bloch, da Universidade de Lausanne, na Suíça, explicou que o processo envolve imitar a ativação normal da medula espinhal, que acontece quando o cérebro envia sinais elétricos para os músculos durante a marcha. Com a estimulação elétrica no momento certo, é possível ativar as funções motoras e restaurar o movimento das pernas.

O Impacto da Estimulação Elétrica

Durante o estudo, os dispositivos elétricos foram implantados na medula espinhal de nove pessoas que haviam sofrido lesões em áreas semelhantes. Seis dos participantes ainda tinham alguma sensação nas pernas, mas com mobilidade limitada. Os outros três não conseguiam sentir ou mover as pernas de forma alguma.

Os participantes passaram por uma cirurgia para a implantação de eletrodos na parte inferior da medula espinhal, logo abaixo do músculo e do osso, mas fora da camada protetora dos nervos. Durante cinco meses de treinamento, os pacientes realizaram uma série de exercícios enquanto usavam um arnês para suporte de peso, começando com atividades simples, como ficar em pé e caminhar com um andador. Ao longo do tempo, os participantes demonstraram progressos significativos.

Após o período de treinamento, quatro dos nove indivíduos conseguiram andar sem a ajuda dos dispositivos, mesmo após o desligamento da estimulação elétrica. Esse resultado apoia a hipótese de que, com a combinação certa de estímulos e reabilitação, é possível "despertar" neurônios na medula espinhal que, de outra forma, ficariam inativos devido à lesão.

Descobertas Sobre a Atividade Neuronal

Análises da atividade neuronal mostraram que, à medida que os participantes recuperavam a habilidade de caminhar, a atividade geral da medula espinhal diminuía. Isso sugere que o cérebro, por meio da estimulação e reabilitação, está reorganizando os circuitos nervosos para que menos células sejam necessárias para a execução de tarefas motoras, como andar.

O co-autor do estudo, Gregoire Courtine, neurocientista da Universidade de Lausanne, observou que esse tipo de "aprendizado" neural já é bem documentado no cérebro. Quando uma pessoa aprende a realizar uma tarefa, as áreas do cérebro responsáveis por essa tarefa tendem a ser mais eficientes, utilizando menos neurônios à medida que a habilidade melhora.

Perspectivas para o Futuro

Os pesquisadores, incluindo Eiman Azim e Kee Wui Huang do Instituto Salk, acreditam que entender como a estimulação elétrica epidural remodela os circuitos da medula espinhal pode abrir portas para o desenvolvimento de tratamentos mais avançados. A aplicação dessa técnica pode, no futuro, não apenas restaurar a capacidade de andar, mas também permitir a recuperação de movimentos mais complexos.